Despertar de uma carta,

Fiquei triste. Num momento você estava aqui, no outro já não estava. Igual a um bicho de estimação que morre de repente e somem com o corpo.
Para onde foi tudo aquilo? Que tínhamos tão seguro um dentro do outro,não afora . Tão certa de sua eternidade. Para onde foi, hein? Meu peito, depósito subitamente esvaziado, aperta-se no meio de tanto espaço...
Tento identificar o instante, quando o que tínhamos se perdeu em meio a palavras mau sobrepostas em pensamentos libertários.De fato não sei dizer se perdemos juntos ou se juntos já não estávamos ... em mim... ou em você... Mas ainda assim me desespera saber que um amor, um dia tão grande , possa ter desaparecido com tanta facilidade,foi que nem deixou rastros da partida,só sei porque sinto.E pode acreditar quando digo que daria a vida por uma intuição falha .
Como já disse, estou triste; e isso me faz conhecer um lado meu que eu mesma desconhecia,irônico {riso} hoje,e somente hoje me vejo romântica perante o espelho... ainda acreditando no poder das cartas. Não falo de tarô,claro que não ..
falo destas, escritas e mandadas ou não mandadas que seja ! Cheias de questões e metáforas, que assim, misturadas cuidadosamente, num cafona e quase insuportável português polido, mas que dessa forma soam assim mais sensatas.
Acordei decidida não posso,na verdade acho devo deixar registrado este meu estranho momento. Quando o que devia ser alívio revela-se angústia...
E a cabeça não pára, vasculhando cantos vazios.Não gosto de perder as minhas coisas, você sabe,se não ... deveria saber. E hoje, cercada pela sua ausência de espirito, procuro o que procurar. Experimentando o desânimo da busca desiludida.Aposto que você está pouco se lixando para isso tudo decidido de que isso são meras palavras vázias.E alqum dia desses,não sei bem ... certo disso,recompôs-se seguiu tua vida tranqüilamente, como se nada de tão importante tivesse ocorrido. E está até achando graça desta minha carta, julgando-a patética e ridícula. Você, analítico como sempre.
Só há uma coisa certa a respeito disso: esta é uma daquelas cartas que são para serem lidas, relidas, depois picadas em pedacinhos. Sendo esse o destino mais nobre para as emoções abandonadas.
Queria apenas pedir um favor antes que você rasgue este resto do que tivemos. Se algum dia, tendo bebido em demasia, sei lá o dia que você tentar isso ... e é nessas horas agente acabar pensando tolices parecidas com estas, escreva também uma carta. Mesmo sem jamais saber o que você irá dizer, sei que ela fará de mim menos ridícula ainda que não sejas para mim. Neste amor e, por isso, em todo o resto. Pois adoraria que você fosse capaz de tanto - escrever uma carta é um ato de desmedida coragem. E eu ficaria, enfim, feliz comigo, por tê-lo amado. Um homem assim, capaz de escrever bobagens amorosas.Então é isso ,é só por hoje.... – pois eu sou insuportavelmente racional, meu Deus! Termino aqui essa história, de minha parte, contando que estas palavras façam jus ao fim do amor que senti. E deixando este testamento de dor, onde me reconheço fraca e irremediável. Porque no fundo, ainda gostaria de poder acreditar que você nadaria de volta para mim sem nem pensar.