let it be..

2011 foi um ano ruim
Uma rápida história, nada de mais. Não sei exatamente onde a li, sei que é mais ou menos isso: um forasteiro chega a essa nova cidade e resolve perguntar ao primeiro passante “como são os habitantes daqui?” O morador socraticamente aprofunda a questão com “depende, como eram os habitantes lá de onde veio?” E o forasteiro: “Uns babacas!” Aí o passante enfim responde “então aqui será igual”.

Não sei se não contei direito ou não é uma grande história, das boas, cheia de significados. Mas achei flexível e passível de interpretações. Ela me fez pensar no quanto estamos sendo babacas sem se dar conta nos anos zero zero (sim, nós, me dei a audácia de incluir você). Existiu um tempo em que era tarefa fácil não ser babaca - bastava não nascer um. Simples, não? Hoje é diferente. Para não virar sócio desse clube cada vez mais numeroso, você precisa de manutenções diárias, de precauções permanentes, cuidados especiais, de testes, análises e relatórios, talvez um aplicativo no seu celular babaca da moda. Enfim, você precisa realmente trabalhar isso.

Você já assistiu o clipe de “Another Brick In The Wall”, do Pink Floyd? Aquele onde as crianças são enfileiradas numa esteira industrial e saem todas padronizadas do outro lado, como os tênis da Nike, como sorvetes do McDonald’s, como tijolos para a construção civil. O mesmo tamanho, a mesma fórmula, o mesmo conteúdo. É sobre isso que Roger Waters, David Gilmour e toda aquela turma estão falando. Sobre a produção de babacas, essas pessoas cujos cérebros sofrem interferências ruidosas da opinião alheia (“beba essa marca de cerveja!” “faça engenharia civil!” “vá ao show do Paul McCartney!” “arrume uma amante!”) e acaba vivendo como uma televisão chata que, ou apresenta o mesmo seriado de hora em hora, ou simplesmente sai do ar e apresenta apenas seu recheio bruto: chuviscos. As máquinas nos transformam em advogados, médicos, escritores, assessores de imprensa em fábricas de pão bisnaguinha, em completos babacas.

Até que você, então babaca, vive uma daquelas noites que muda sua vida para sempre. Revés. Você perde a memória definitivamente num acidente de trânsito, perde o amor da sua vida ou, no meu caso, descobre que está doente, passa 8 dias numa cama de hospital fazendo todo tipo de exame, vendo todo tipo de enfermidade e nenhum médico sabe dizer o que você tem. Parece um episódio do Dr. House, mas é a vida real. Sempre ouvi dizer que a gente vai morrer um dia, mas honestamente achava que era blefe.

Você acha mesmo que tem ainda uns dez anos para dizer o que realmente importa às pessoas que ama? Doce ilusão. Seu tempo acabou. É hora de repensar sua contribuição diária ao clube. A gente só vive uma vez, você tem certeza que você é aquilo que gostaria de ser? Olhe uma foto sua enquanto criança e compare com o que você se tornou. Se você morrer hoje (acredite, pode acontecer), é assim que você gostaria de ser lembrado? É hora de deixar de ser babaca. Não é bolinho. Eu estou bem no início, recomeçando tudo outra vez, do zero. E você?

Nenhum comentário: